Erotismo: mulher livre é puta?

Nem toda puta, é de fato, puta. Mas, como pode ser? Puta é uma pessoa do sexo feminino que potencializa a libertação de sua sexualidade, sem nenhum pudor moral, já que tem ciência de que com quem ela dorme é assunto que foge à esfera pública. É um assunto de sua individualidade como ser humano, E essa mulher tem total direito de exercê-la como bem desejar. Ponto.

"Puta é uma pessoa do sexo feminino que potencializa a libertação de sua sexualidade, sem nenhum pudor moral" No entanto, o padrão moral construído deturpa essa liberdade sexual feminina. Vejamos exemplos no Dicio: “Tabu; mulher que faz relações sexuais por dinheiro; prostituta. (Sentido figurado) aquela que não tem pudor, libertina ou despudorada. Há outras palavras que expressam o mesmo sentido “imoral” para o comportamento sexual livre: por exemplo, “vagabunda”, “piranha”, “vaca”, “galinha”, “biscate”, entre outros. E então me pergunto: mas o que está por trás desta pichação moral da mulher livre? Pensemos juntos. Uma mulher livre é um perigo social para uma sociedade construída pelos homens com valores conservadores. SE todas as mulheres vivenciassem sua sexualidade de maneira plena E sem censura, a sociedade estaria ameaçada. Os filhos não teriam “pais” conhecidos, ou seja, o casamento monogâmico ruiria E a propriedade privada igualmente. Censurar o corpo feminino de todos as maneira possíveis, desde a infância foi o jeito encontrado pelas instituições sociais de colocar freio no desenvolvimento sexual da mulher E manter tudo enquadrado no chamado status quo (a situação de poder masculino inalterada).

"Uma mulher livre é um perigo social para uma sociedade construída pelos homens conservadores" A maternidade é muito bem vista pelo sistema capitalista, uma vez que gesta mão de obra para o trabalho, portanto, precisa ser encorajada. Assim, desde criança, no interior das famílias, o corpo da menina é alvo de controle rigoroso, por parte de pais E mães. Ela não pode sentar com as pernas abertas para não ter suas partes íntimas expostas, é ensinada a ter vergonha de seu corpo, a entregar seu sexo a um homem eleito, a quem geralmente tem relação estável, ou seja, no interior do casamento monogâmico institucionalizado. A puta é portanto, a mulher que foge ao padrão moral, que se desprende das correntes do poder masculino E de instituições sociais construídas pelo patriarcado, como a igreja E Estado. Ela foge do controle, por essa razão, há necessidade de pichá-la moralmente, de apontar o dedo contra ela, de voltar-SE contra essa fêmea, classificando-a como PUTA. Usando esse expediente, o comportamento considerado despudorado é desencorajado porque a desobediência será castigada, consequentemente, a vida desta fêmea será arruinada no âmbito social.

"Puta é a mulher que foge ao padrão moral, que se desprende das correntes do patriarcado" E deu certo essa grande falácia: a maioria das mulheres segue o padrão de cerceamento moral imposto PARA elas, casam, tem filhos, maridos, empregos E muitas vezes guardam em si extrema frustração, às vezes, sequer têm noção do motivo deste sentimento tão arrasador. O tempo passou, a sociedade avançou, as mulheres passaram a ter voz, hoje trabalham, têm acesso à universidade, são líderes de famílias E são emancipadas, obviamente, que o movimento feminista ajudou muito nessa emancipação conquistada à duras penas, E que ainda não está finalizada. Estamos pavimentando o nosso caminho, temos arcabouço jurídico que nos protege E nos dá direitos. Entretanto, não podemos jamais descuidar de nossas conquistas, caso contrário, tudo o que foi construído, à custa de imenso sacrifício, inclusive de vidas, será destruído. Infelizmente, ainda em pleno século 21, o discurso moralista já deveria ter sido abolido, uma vez que a mulher possui emancipação política E social dos homens, mesmo assim, é uma visão cultural arraigada por séculos na mente das pessoas, é triste afirmar que o machismo infecta até a mente de mulheres. Isso porque o padrão formatado de pensamento foi estabelecido E as pessoas o seguem sem questionar: “puta é mulher sem valor moral, desqualificada, corrupta, escrota, imoral, E tantos outros adjetivos tão deprimentes, que apenas corroboram o machismo estrutural que compõe a nossa sociedade doente E hipócrita. Então, antes de pichar uma mulher moralmente, pense 500 vezes, porque cada mulher é livre para viver sua sexualidade como desejar e não cabe a ninguém julgá-la. A mulher classificada de puta é uma fêmea que não teme a ampliação de seu repertório sexual E faz o exercício livre de sua sexualidade rumo à sua evolução. Baseia-se em regras E as impõe a seus parceiros, parceiras, seja na heterossexualidade ou fora desta. Ela possui seus limites e dialoga com parceiros, parceires e parceiras, assim constrói suas vivências com base em relações evoluídas. É uma mulher muito acima da média, em termos de civilização e inteligência, e merece total respeito pelas conquistas, uma vez que pagou um preço extremamente alto para chegar a este nível.

"A mulher classificada de puta é uma fêmea que não teme a ampliação de seu repertório sexual. Faz o exercício livre de sua sexualidade rumo à sua evolução. Baseia-se em regras e as impõe a seus parceir@s, seja na heterossexualidade ou fora dela" Crédito Ilutrações: Apollonia Saintclair